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Começou a profissão de guarda-rios em maio de 1956, em Celorico da Beira, no rio Mondego e seus afluentes, passando depois por Sandomil, no rio Alva e seus afluentes, conseguindo depois permuta com um colega da Teixeira, Arganil, para a Barriosa, a sua terra natal, onde durante 37 anos geriu o rio Alvoco e seus afluentes, desde a nascente, acima de Alvoco da Serra, até à Vide, onde a ribeira do Piódão encontra a ribeira de Alvoco, como também é conhecido o rio pelas gentes deste território.
Este trabalho sonoro, a partir de gravações originais realizadas em 2013, à porta do seu estabelecimento comercial, na Barriosa, é uma homenagem a José Borges, amigo e antigo guarda-rios.
A peça sonora começa com o som do rio Alvoco junto ao Poço do Moinho, na Barriosa, e dentro do próprio moinho de rodízio que se encontra a jusante, entrando depois a voz terna de José Borges que, ao longo de 21 minutos, nos dá um relato da sua antiga profissão. Muito mais haveria a contar... No entanto, julgo ficarmos na posse de um documento importante sobre uma das mais importantes profissões do século XX neste território de montanha.
O 2º tema deste trabalho é um passeio sonoro por algumas das estreitas ruas da Barriosa, na companhia dos meus filhos, com 5 anos na altura, parando aqui e ali para breves minutos de conversa com alguns habitantes da aldeia que, sempre disponíveis, tinham algo para contar ou ensinar.
Desde que em 2008 iniciei este projecto de arquivo e documentação sonora desta zona do país, nomeadamente do vale do rio Alvoco, sempre foi meu desígnio gravar José Borges.
Um dia, na presença dos meus filhos, Isaac e Samuel, ainda pequenos, que alegremente brincavam na rua, como se pode ouvir na peça, o amigo Borges Mendes, como era tratado pelos seus superiores, cedeu ao meu pedido e sentados no corrido banco de madeira à porta do seu café-mercearia fez o favor de nos dar esta história de vida à volta da sua nobre e antiga profissão de guarda-rios.
É uma história de outros tempos, onde se calcorreava as margens do Alvoco a pé, a cavalo (durante pouco tempo), depois numa Renault 4L, com ameaças físicas e verbais, usando “uma pasta para os papeis” e “comendo nas casas apropriadas”, fiscalizando regadios, extração ilegal de inertes ou despejo de entulho para a água. No fim, saiu da profissão com uma “boa folha de serviços”.
Para o amigo José Borges Mendes, infelizmente já falecido, o meu agradecimento pela sua colaboração e valores emitidos durante os anos que o conheci. Para a sua família, especialmente para o João Pedro, um dos seus filhos, mas também para o seu irmão e irmãs, a minha gratidão por sempre me terem acolhido como um dos seus e me terem transmitido desde pequeno os valores da preservação da memória e da terra que nos viu nascer.
Bem-Hajam!
Luís Antero
03.2020
credits
released April 1, 2020
Gravações Sonoras de Campo/Field Recordings: Luís Antero
Local/Location: Barriosa (Seia)
Foto de capa/Cover Photo: João Orlindo Marques, incluída no seu livro "Esta Vida é uma Cantiga! Ocasos do viver numa aldeia serrana" (Apenas Livros, 2010)
Design/Artwork: LA (a partir da fotografia original de JOM)
Ano/Year: 2013
(cc) 2020
LA/SdA
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